Da biografia do padre e jornalista nascido nos Açores, recolhe-se a informação que trabalhou em Rádio Renascença (Lisboa), de 1968 a 1975. Quando chegou, a estação era frágil quanto a emissores. As ondas médias tinham potência limitada e a rede de FM estava a iniciar. As emissões religiosas consistiam numa oração da manhã e uma meditação, além da transmissão da Eucaristia dominical e do terço do
Rosário.
De imediato, António Rego empreendeu a organização de programas de discussão social, numa perspetiva voltada para a realidade quotidiana. Um foi o programa semanal Verdade e Vida, preparado por uma equipa de jovens e onde discutiam os seus problemas. As palestras em si – marca prevalecente da rádio até então – eram infrutíferas, pelo que valia a pena ouvir a opinião dos ouvintes. Com um grupo de jovens, habitualmente dez, ele reunia e conversava com um gravador ligado sobre temas como media, exames, santos populares, praia, convívio entre rapazes e raparigas, dia da mulher. Eram cerca de seis a dez horas de conversa, a que se seguia a montagem do que interessava manter, e a ilustração através de uma canção, poema ou apontamento, este a cargo de Alberto Campinho. O programa era apresentado por António Rego e Dora Maria, contando ainda com colaborações de Joaquim Pedro, Maria José Baião, Maria Margarida, Isa Maria e José Manuel Nunes, afinal os grandes nomes da estação naquele período. A montagem pertencia aos técnicos Mário Soares e José Videira (Nova Antena, 18 de julho de 1969).
No final de 1969, o programa foi proibido pela censura do Estado Novo: fora dito alguma coisa sobre a educação e o poder político não gostou. Para António Rego: “Com a censura, fazíamos uma espécie de jogo, sem grande dramatismo e tendo sempre um grande apreço pela liberdade de expressão. Sentíamo-nos cercados de muitas formas. Mesmo com alguma revolta por não nos podermos expressar totalmente, como era o caso dos temas de justiça social, as encíclicas sociais e outros” (p. 80 do livro abaixo indicado). Seguiram-se os programas Esquema XIII, que de semanal passou a diário, Diálogo com os que Sofrem, Palavra do Dia e celebrações. Entretanto, assumiu o cargo de regente de estúdios, o equivalente ao atual diretor de programas. Foi gestor de tensões e debates no final do regime autoritário. No período de 1974-1975, durante uma luta entre o conselho de gerência e um grupo de profissionais que haviam ocupado os estúdios de Lisboa, ele foi uma ponte entre ambos nas tentativas de conciliação.
Já na televisão, começou uma colaboração em 1968 com a RTP para a missa transmitida. Do seu percurso, destaco também o trabalho na cooperativa Logomédia, centro de produção audiovisual, a escrita de crónicas no Diário de Notícias, o programa 70×7 (1979), a TVI (1993) como diretor de informação, o Secretariado Nacional das Comunicações Sociais e a agência Ecclesia.
Fixo um artigo de opinião que escreveu na altura da atribuição da frequência nacional de FM em 1985, a constituir o segundo canal, RFM, e da questão política (o parlamento quis reverter a atribuição da frequência). António Rego defendia a frequência atribuída à Rádio Renascença, considerando que a Igreja Católica não recebia nenhum dinheiro da estação, mas, pelo contrário, tinha um “desgaste enorme de energias e meios”. Ao longo dos anos, tinha andado em peditório nacional constante para garantir meios para tornar a rádio um meio moderno. E considerava que “uma frequência de rádio que se concede não é uma cassete pirata que se empresta por duas semanas. Supõe um investimento de emissores, de equipamentos, de produção e realização”.
(Parte do texto foi inicialmente publicado em 19 de junho de 2014, no blogue Indústrias Culturais, com base no livro de António Rego, em entrevista a Paulo Rocha, 2014, A Ilha e o Verbo. Lisboa: Paulinas, 286 páginas).
Autor: Rogério Santos, 2022
#antoniorego #biografia
Texto original, com imagens, em https://radio.hypotheses.org/2947.
Comments